@leodeoxossi: Tenho acompanhado as polêmicas e vídeos que surgiram sobre a Marcha pra Exu, onde em certo momento algumas pessoas rezaram Pai Nosso e Ave Maria. Quero deixar claro, não estive presente no evento, mas diante do debate que isso gerou, acho importante trazer uma reflexão. Não se trata de julgar quem fez, e sim de olhar para o problema do sincretismo dentro da Umbanda hoje. A narrativa comum é que o sincretismo foi resistência, um disfarce para que nossos ancestrais pudessem continuar cultuando os Orixás, e isso tem seu valor histórico. Mas hoje precisamos questionar: manter esse sincretismo ainda faz sentido? Ou será que ele traz mais problemas do que soluções? Alguns pontos que raramente são discutidos: 1. Identidade diluída: quando misturamos Exu e Orixás com rezas católicas, apagamos sentidos próprios e confundimos a tradição. 2. Racismo religioso reforçado: a demonização de Exu foi construída pelo olhar cristão, repetir símbolos desse olhar mantém o estigma. 3. Colonialidade e apagamento: sustentar o sincretismo coloca o referencial europeu acima do africano, perpetuando hierarquias. 4. Branqueamento histórico: ajudou a Umbanda a ser aceita, mas também alimentou uma lógica de negação da negritude da religião. 5. Incoerência ritual: cada oração tem sua cosmologia, misturar rezas católicas com fundamentos africanos quebra cadeias de axé. 6. Apropriação cultural: facilita que símbolos afro sejam reembalados como “universais” e esvaziados de força política. 7. Pedagogia do medo: ao manter símbolos que nascem da demonização, médiuns e fiéis seguem com culpa, medo e bloqueios. 8. Não é mais condição de sobrevivência: antes foi estratégia, hoje temos liberdade para afirmar os Orixás pelo nome e fundamento. Minha posição, sempre com respeito, não é sobre certo ou errado, mas sobre maturidade espiritual. A Umbanda não precisa de muletas para falar com o sagrado. Honrar nossos ancestrais também é libertar nossos Orixás do disfarce. Se fez sentido pra você, comenta aqui, compartilha e vamos elevar esse debate com consciência e axé.

Bàbá Léo de Oxóssi

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Wednesday 20 August 2025 20:54:40 GMT